Educação e Sustentabilidade na Amazônia: A RDS do Tupé e a Escola Municipal Canaã II

Educação e Sustentabilidade na Amazônia: A RDS do Tupé e a Escola Municipal Canaã II

A Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Tupé é um dos tesouros ambientais e culturais de Manaus, situada às margens do Rio Negro. Criada em 2005, a reserva ocupa mais de 11 mil hectares de floresta amazônica preservada, abrigando comunidades tradicionais que vivem em equilíbrio com a natureza e dependem dela de maneira consciente e sustentável.

O objetivo da RDS do Tupé é promover um modelo de vida em harmonia com o meio ambiente, onde o desenvolvimento humano acontece sem comprometer os recursos naturais. As comunidades da reserva — como Julião, Livramento, São João do Tupé, Colônia Central e Tatu — são exemplos vivos de que é possível produzir, educar e evoluir respeitando a floresta.
A economia local é baseada na pesca artesanal, agricultura familiar, artesanato e turismo ecológico, sempre com foco na sustentabilidade e no saber tradicional.

No coração da Comunidade Julião, destaca-se a Escola Municipal Canaã II, um símbolo de educação e transformação social na Amazônia. Fundada em 1993, a escola nasceu do sonho dos moradores de oferecer um espaço de aprendizado para as crianças da região. Hoje, a Canaã II é uma escola bem estruturada, que atende alunos da Educação Infantil ao 9º Ano do Ensino Fundamental, oferecendo ensino de qualidade mesmo em meio aos desafios de uma área ribeirinha.

A Canaã II é muito mais do que uma instituição de ensino: é um espaço de formação cidadã e ambiental, onde o conhecimento caminha lado a lado com a consciência ecológica.
Os professores desenvolvem projetos que abordam temas como reciclagem, respeito à natureza, cultura indígena e preservação da floresta, integrando os saberes científicos aos conhecimentos tradicionais das famílias locais.

Grande parte dos alunos é descendente de tribos indígenas que ainda habitam a RDS do Tupé, o que torna o ambiente escolar um mosaico de sabedoria ancestral e aprendizado moderno. Essa convivência entre culturas fortalece o sentimento de pertencimento e o respeito pela terra, pela água e pela vida — pilares fundamentais da sustentabilidade.

Outro destaque da região é o Museu do Seringal Vila Paraíso, localizado nas proximidades da comunidade. Esse espaço histórico resgata o período do ciclo da borracha, mostrando o modo de vida dos seringueiros e a importância da Amazônia para o desenvolvimento econômico do país.
O museu se tornou uma extensão educativa para a escola, oferecendo aos alunos experiências reais de aprendizagem e reflexão sobre a relação entre o homem, a floresta e o tempo.

Entrada gratuita para moradores das comunidades próximas ao Museu, Pessoas com Deficiência (PcD) e guias de turismo. Todos mediante comprovação.

Valor da entrada para os demais:
R$ 20,00 (inteira) / R$ 10,00 (meia-entrada)

Regras para meia entrada: amazonenses, estudantes (carteirinha válida), professores, idosos a partir de 60 anos, crianças de 6 a 10 anos, doadores de sangue, profissionais da área de saúde, militares e acompanhante de PcD. Todos mediante comprovação.

Funcionamento

Segunda a sábado (exceto às quartas), das 9h às 15h, domingos, das 9h às 13h.

Endereço 

Igarapé São João – Afluente do Igarapé do Tarumã Mirim (Zona Rural)

Acesso

A chegada ao Museu é realizada somente por via fluvial, na Marina do Davi, localizada Avenida Coronel Teixeira, s/n – Flutuante Acamdaf. Marina do Davi – Ponta Negra, Manaus-AM.

Como chegar?

O tempo de viagem é de aproximadamente 30 minutos. 

A travessia é feita pela Cooperativa dos Profissionais de Transporte Fluvial da Marina do Davi (Acamdaf). Para informações sobre o transporte estão disponíveis os contatos: (92) 99473-7977, 3658-6159 ou pelo site http://www.acamdaf.com.br/.

Contatos

E-mail:  museudoseringal@cultura.am.gov.br

Telefone:  (92) 3631-6047

O Museu do Seringal Vila Paraíso, localizado no Igarapé São João, na área rural de Manaus, foi inaugurado no dia 16 de agosto de 2002. O espaço reproduz um seringal do final do século 19 e início do século 20, época do ciclo da borracha e período de grande ascensão econômica do Amazonas. Nas visitas, que são guiadas, é possível conhecer desde o processo de produção das pelas de borrachas até a diferença latente entre o modo de vida do seringueiro, o qual vivia em condições análogas à escravidão, e a do seringalista, o dono do seringal que ostentava uma vida de luxo e conforto, mesmo estando dentro da floresta.  

As instalações originalmente foram usadas como locações para as filmagens do filme “A Selva”, do diretor português Leonel Vieira, que adaptou o livro de mesmo nome do escritor português Ferreira Castro. Como contrapartida do apoio dado pelo Governo do Estado do Amazonas à produção do filme, o cenário foi doado para a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Amazonas, que o transformou no Museu do Seringal Vila Paraíso.

Assim, a RDS do Tupé, o Museu do Seringal Vila Paraíso e a Escola Municipal Canaã II formam um ecossistema de saberes, onde educação, cultura e sustentabilidade se entrelaçam.
Esse conjunto mostra que a educação pode — e deve — ser um instrumento de preservação ambiental e valorização cultural, preparando as novas gerações para viver com consciência e respeito pela Amazônia.

A Jornada dos Educadores Ribeirinhos da Escola Municipal Canaã II

Um pouco da jornada dos educadores ribeirinhos em época de seca no Rio Negro – Tarumã Mirim – Comunidade Julião.

Em meio à imensidão da floresta amazônica, o cenário se transforma com as estações. O que antes era o leito caudaloso do Rio Negro se converte, durante a seca, em uma longa trilha de areia e barro. É nesse caminho, marcado pelo sol forte e pelo silêncio das águas ausentes, que os professores da Escola Municipal Canaã II, na Comunidade Julião, seguem firmes em sua missão de ensinar.

O vídeo mostra esses educadores caminhando sobre o leito seco do rio, onde antes navegavam em pequenas canoas para chegar à escola.
Cada passo é um gesto de dedicação e amor à educação. Cada pegada deixada na terra é um símbolo do compromisso de quem entende que ensinar na Amazônia é mais do que uma profissão — é um ato de resistência, fé e esperança.

Esses professores enfrentam o calor intenso, a distância e as dificuldades do acesso para garantir que nenhuma criança fique sem aprender.
Eles são o exemplo vivo da força da educação ribeirinha, que se adapta à natureza, respeita seus ciclos e faz da superação uma rotina diária.

A Escola Municipal Canaã II, localizada dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Tupé, representa a união entre educação, natureza e sustentabilidade.
Ali, a escola não é apenas um prédio — é um farol de conhecimento que ilumina o futuro de crianças descendentes de povos tradicionais e indígenas, que aprendem desde cedo o valor da floresta e da vida comunitária.

Educar na Amazônia é caminhar com o coração firme, mesmo quando o rio seca. É acreditar que o saber também nasce da terra, das águas e das mãos que ensinam com amor., Educar na floresta é educar para o futuro. Na Canaã II, cada lição é uma semente de conhecimento que floresce em harmonia com a natureza.

Caminhada de 1h partindo de um ponto denominado “Sem Terra” até a Escola Municipal Canaã II na “Comunidade Julião” , Rio Negro, Tarumã Mirim. Esses professores estão caminhando pelo leito do rio na época da seca. ( imagens de outubro de 2023).

Abaixo uma imagem do mesmo rio na época da alta cheia. ( Julho de 2024).

Por Carlos Rocha

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